8h30. Levanto. Sou como uma criança no dia da festa de aniversário. Feliz. Muito feliz. Entro no quarto da Fernanda. Sei que o Danilo já saiu para trabalhar. Na cama, duas menininhas dormindo de mãos dadas, Duda e Luísa. Mamãe acorda. Fernanda me manda um whats app para eu ir tomar café na tia Helen. Vamos. Há quase trinta anos sou tratada como uma verdadeira rainha naquela casa. Amigos mais chegados que irmãos. Café da manhã delicioso.
Fernanda adora o papel que está exercendo. Mandando em mim o tempo todo. Pode ir ali. Não pode ir lá. Sai daí. Vem pra cá. Vai pra lá. Penso em como será a decoração. Podiam ser bandeiras. Amo nações. Não quero criar expectativas. O que for, vou amar.
Almoçamos. Fernanda pede para eu ir com ela comprar umas "coisinhas" que faltaram. Me fala que antes vamos ter que buscar o pai dela. No Guará. Tudo bem.
Estou de shorts e havaianas. Minhas havaianas lindinhas que comprei ontem. Um pacote de pipocas com um brochinho que é um saleiro. Fofinha demais.
Levamos a Luísa. Nunca sabemos o tempo em um mercado. E eu, tão cansada. Mas não vou negar isso a ela. Jamais. Entro no carro. Vou atrás. "Conversando" com a Luísa linda. Um calor escaldante. Lá fora. O termômetro marca 36 graus. Está mais. Muito mais. A Luísa dorme. Fernanda e eu vamos conversando. O caminho é longo, mas nem percebemos. Ar condicionado ligado. Espero que não demore no mercado.
Pegamos o Dudson. Fernanda vai para o carona. Ele assume o volante e explica que precisa resolver um negócio rapidinho. Carro confortável. Ar condicionado ligado. Andamos e andamos. E esse lugar não chega. Só tenho que estar na chácara uma hora antes da festa. Temos muito tempo. Tudo bem. Resolvo relaxar. Brasília está linda. Não me lembro de quando foi a última vez que aqui choveu mas as árvores estão todas verdes. Os flamboyants todos floridos. Lindos.
Passamos pelo Guará II. Nada. Continuamos. Zoológico. Vejo a girafa. O elefante. O Lago Paranoá. Árvores e mais árvores lindas.
Ainda estou meio surda por causa dos berros de Golias ontem.
Pai e filha conversam como bons amigos. Escuto uma coisa ou outra. Enquanto curto Brasília linda que eu amo. E meu coração se alegra. Me lembro do dia em que a Fernanda falou com os olhos marejados que estava vivendo dias de luto por causa do pai. Mas aí veio o perdão. O perdão é fantástico, maravilhoso. Deus é lindo. Agora conversam alegremente. Dois amigos. Feridas curadas. Cicatrizadas.
Ponte JK. Sempre linda. Imponente. Chegamos ao Palácio da Alvorada.
Sou daquelas que conseguem admirar uma beleza todos os dias, se as vir, e continuar admirando, sem se cansar. Não que eu veja a Ponte JK ou o Palácio da Alvorada todos os dias. Mas sempre que vejo, eu admiro. Muito lindo.
Estamos muito longe da chácara. Chegamos finalmente ao nosso destino. Royal Tulip Hotel Brasília.
Simplesmente perfeito. Sonho de consumo de qualquer um. Para o carro entrar recebemos uma pulseira. Na pulseira está escrito "passante". Pergunto, rindo, se vamos passar roupas. Odeio passar roupas. Meu nariz coça. Meus olhos ardem. Minhas costas doem. Meu braço. Odeio.
Dudson não desce do carro. Fernanda desce. Pega uma sacola no porta malas. Olho o que dá para ver do saguão. Maravilhoso. Fernanda abre a minha porta. Entrega minha rasteira de pedras verdes. Olho para ela. Estou sem entender. Como se eu fosse uma criança, ela fala devagar: "Mãe, você vai ficar aqui". Ainda não entendi. Loira. Escuto o nome dos meus filhos e ela dizendo que estão me dando de presente. Que vou passar a tarde no SPA. Vou fazer massagem? Vão mexer nos meus pés? Quem ouviu meu coração? Quem ouviu minha alma? Quem sabia meu desejo?
Finalmente entendo. Uma onda de energia e prazer percorre o meu ser. Abraço a Fernanda. Quero sair correndo e gritar. Sair pulando. Como em "Esqueceram de Mim". Não posso. Me colocam numa camisa de força e me levam embora.
Uso todo meu domínio próprio para me comportar como uma adulta. Minhas pernas estão bambas. Coração na boca. Ela me acompanha. Passamos pela recepção. Sem pressa. É tudo tão lindo. Olho para cima. O pé direito é magnífico. A decoração esplendorosa. Amo arquitetura. Amo o belo. No teto, algo como um esqueleto de um barco reina branco, pendurado. Preciso ir devagar. Deus está falando comigo. Preciso enxergar tudo que eu conseguir.
Não há nenhum Golias aqui. Nenhum grito. Apenas pessoas lindas. Vestidas alegremente. Conversas suaves. Sussurros. Sorrisos. Sou ouvidos. Olhos. Sensações. O som é bom. O cheiro é bom. O olhar é bom.
Perco o fôlego. À nossa frente, a parede é toda de vidro. Piscinas lindas e o Lago Paranoá. Parece um mar. Descemos um andar. Mais um. Não escuto nenhum Golias. Eu, segurando no corrimão da escada. Tenho vontade de chorar. Viramos à esquerda. Portas enormes. Lindas. Os quartos. Desejamos ficar ali. Escuto longe a voz da Fernanda. A saída é pelo outro lado. Como se fosse sobrenaturalmente, uma porta se abre à nossa frente. Descemos mais um lance de escadas. Outro.
Queremos ficar. Morar aqui. O sol não está escaldante aqui. O sol sorri.
Fernanda fala meu nome na recepção. O atendente pergunta se Symone é ela. Ela aponta para mim. Ele pergunta se estou de havaianas. Digo que não. Fernanda me devolve as havaianas. Digo a ele que ganhei o SPA de presente e abraço a Fernanda. Abraço não. Me lanço sobre ela. Quase derrubando-a.
Daqui a pouco vou estar dentro do paraíso. Sem nenhum Golias berrando.
O atendente me entrega uma bolsa com algumas "coisinhas". Ofereço meu cartão à Fernanda para ir ao mercado. Ela fica com minha bolsa! Peço meu celular. "Mãe, você vai relaxar. Não precisa de celular." Concordo. Quando se afasta, brinco: "Pode vir me buscar no aniversário de um ano da Luísa." Ela me avisa, já da escada, que a Vânia vem me buscar. Se disse a hora não ouvi. Meu Deus, e se a Vânia se perder? Como vou explicar o caminho? Bem, não vou pensar nisso. As duas se entendem. Vou desfrutar meu presente.
O recepcionista me indica o lugar onde devo trocar de roupa e depois aguardar. Quando chego ao vestiário, coloco meu rosto na parede e choro. Choro. Choro. Sou assim. Enfrento Golias sem chorar. Mas não sei não chorar diante de um presente desses. Não acredito que estou onde estou. Louvo, louvo, louvo. Como meu Pai é lindo! Como Deus é bom. Onde eu estava ontem. Onde estou hoje. Abençoo meus filhos. Minha herança bendita.
Me recomponho. Troco de roupa. Sento num confortável sofá. A decoração é linda. À meia luz. Me sinto no Japão. No lugar dos cinco Golias, cinco salas de massagem. Cinco paraísos.
Enquanto espero, uma piscina redonda. Sorrio sozinha. Me lembro de quando estávamos no hotel no Mar Morto e entramos numa banheira de hidromassagem que cabiam sete. Éramos doze ou quatorze. Rimos muito.
A moça que vai me atender oferece um chá e uma água. Não pede minha veia. Não quer meu sangue. Aceito. Agradeço. Saboreio o chá delicioso enquanto ela prepara meu escalda pés. E Deus continua falando comigo. Ele pode mudar qualquer circunstância em alguns minutos. Dois dias seguidos. Percorri caminhos. Recepções. Desci andares.
Meus pés estão deliciosamente relaxados em um escalda pés. Dentro em breve, estarei em uma daquelas salas. Silenciosas. Deliciosas. Não dentro daquele barulhento Golias.
Tempo. É algo com que não preciso me preocupar. Ele tem me falado que ajusta e muda do jeito dEle. Quantas vezes tenho esticado minhas mãos, desejando sacudir Sua ampulheta, apressando Seu tempo.
Em algumas horas, Ele pode mudar tudo. Me surpreender. Conhece o meu coração. Sabe todos os meus desejos. "Ainda quando a Palavra não saiu da minha boca ..." Hoje Ele literalmente desenhou para mim. Sua filha loira. O desenho mais lindo que eu já vi.
Depois do escalda pés, sou encaminhada à uma daquelas cinco salas. Não preciso me preocupar por estar sozinha. Não há sala de controle. Não vou passar mal. Não vou me sentir claustrofóbica. Vou desfrutar de cada segundo. De cada sensação. Quero que o tempo pare. A cama é confortável. Me deito de bruços. Me sinto a Rainha Ester. Tantos óleos. E fico ali, naquele paraíso, por um tempo maravilhoso. Desfrutando de cada detalhe. Cada segundo. Sendo massageada dos pés à cabeça. Me entrego. Estou em Elim. Até que tenho que me levantar.
E, pelo tempo que tive que ficar dentro da boca de Golias, ouvindo seus berros, gentilmente, ela me encaminha até à banheira de ofurô. Falo que pode vir me buscar daqui a uns três dias. Ela sorri. Fecho os olhos. Só para relaxar ainda mais. Ela joga pétalas e essência de rosas na água. Um perfume simplesmente magnífico toma conta de toda a sala. Toma conta de mim. Fico ali. Completamente relaxada. Orando. Dentro daquela água. Coração grato. Não peço nada. Não preciso. Só agradeço. E ouço. E percebo. E desfruto. Seu cuidado e Seu amor.
Depois de tantos dias de dor, Ele está me mimando. Papai sabe tudo que eu quero. Só queria uma massagem. Olha o que Ele me deu. Muito além do que eu desejei. Eu nem pedi. Foi do jeito dEle. No tempo dEle. Com os ajustes dEle.
Hora de sair desse banho maravilhoso. Rejuvenesci dez anos. Seguramente. Sou outra mulher. Bem melhor. Foi tudo perfeito.
Não sei que horas a Vânia vem. Fico um pouco na sauna. Entro na piscina. Volto à sauna. Tomo uma ducha maravilhosa. A água tão forte que massageia até a minha alma. Decido que as dores de cabeça vão escorrer junto com a água e vão ficar aqui.
Alguém entra no vestiário e chama meu nome. Estão me aguardando. Vânia chegou. Que bom. Temos um longo caminho até à chácara. Estamos do outro lado da cidade.
Subimos até à saída do hotel. Maravilhadas com o lugar. Entramos no carro. Sinto um pouco de fome. Pergunto se tem alguma castanha do Pará na bolsa. Ela fala: "Promete que não vai gritar muito?" Não entendo a pergunta. Respondo que sim. Pede para eu pegar sua bolsa de Jerusalém no banco de trás. Pego. Abro. Tâmaras de Israel. Grito. Mas só um pouco. Para não quebrar minha promessa. Vamos rindo, tagarelando e admirando as árvores até Águas Claras. Lá, ela me entrega seu celular. Várias mensagens de família e amigos que não vieram e gravaram um vídeo. Fico emocionada. Sorrio. Choro.
Tudo é muito melhor depois de um Golias no chão. Estou muito feliz. E ainda nem me arrumei para minha festa.
Como não amar e não servir a um Deus tão lindo e bom? Imagina o que ainda me espera nessa noite!
Sou como uma criança, aguardando, cheia de expectativas, as surpresas do Pai. Meu Pai tão lindo e bom!
Tudo bem, Senhor. No Seu tempo. Do Seu modo. Com os seus ajustes. Vou parar de brigar porque o meu tempo é diferente. Porque tenho pressa. Porque quero tudo para ontem. Vou esperar. O Seu tempo. O seu modo.
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