O capítulo 19 de Mateus termina com uma frase intrigante: “Contudo, muitos primeiros serão últimos e muitos últimos serão os primeiros”.
E conta uma parábola, também intrigante, sobre o Reino dos céus que é semelhante a um proprietário que saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores para a sua vinha. Por volta das 9h horas, depois às 12h, às 15h e até às 17h ele faz o mesmo.
Um denário era o valor devido ao trabalhador por um dia de serviço.
Vamos imaginar o Reino dos céus.
Aqui o Senhor o compara a uma vinha. É necessário muitos trabalhadores para uma vinha. Então o proprietário saiu cedo e encontrou alguns trabalhadores disponíveis. E os contratou. Mas não foram suficientes. Precisava mais.
Por volta das 9h saiu de novo e contratou mais trabalhadores. Todos os que estavam disponíveis. Ainda assim não foi suficiente.
O Reino dos céus é semelhante a essa vinha, e o Senhor tem recrutado trabalhadores. Todos os que estão disponíveis. Todos os que estão dispostos a trabalhar. Seja trabalhar muito, seja pouco. O trabalho em uma vinha deve ser minucioso, feito com cuidado. Uvas são delicadas e preciosas.
Às 15h aquele proprietário saiu e contratou mais trabalhadores ainda. Faltavam apenas três horas de trabalho. Ainda assim contratou. A vinha precisava ser trabalhada.
Quando foi às 17h, Jesus nos conta que aquele proprietário saiu novamente. Foi até à praça onde costumavam se reunir os homens à espera de trabalho e ali encontrou trabalhadores que estavam desocupados. Preste atenção! Trabalhadores que estavam sem ocupação. Ele não os contratou. Antes perguntou porque estavam desocupados. Responderam que ninguém os havia contratado. Ele também os mandou para a vinha. Faltava apenas uma hora de trabalho. Mas eles foram. Provavelmente imaginaram que receberiam apenas uns “trocados” devido à hora avançada, mas foram assim mesmo.
Fico imaginando a história da humanidade. Quantos foram “contratados pelo Todo-Poderoso” e trabalharam arduamente “o dia todo”. Ou quantos foram “contratados” desde a infância e também trabalharam arduamente “o dia todo”, a vida toda, até à sua velhice. Outros foram “contratados” no meio da sua mocidade. Outros ainda no final de suas vidas. O ladrão que morreria ao lado de Jesus, foi “contratado” nos “acréscimos”, à porta da morte.
Pois bem. O dia de trabalho chegou ao fim. 18h. O proprietário daquela maravilhosa vinha (que precisava de tantos trabalhadores), mandou ao seu administrador que pagasse aqueles homens, começando dos que foram contratados por último até os primeiros.
Os que trabalharam apenas uma hora receberam um denário, o pagamento de um dia. Saíram mais que felizes. Não precisaram enfrentar o calor do sol o dia todo e ainda assim ganharam o salário de um dia inteiro.
E assim todos foram sendo pagos. Os últimos, que trabalharam o dia todo, esperaram receber um salário maior, mas receberam um denário como os demais. O que havia sido combinado. O que era justo.
Eles se revoltaram. Algo dentro de mim se revolta também. Fico pensando naquele proprietário. E não entendo. Até que finalmente compreendo o que está acontecendo. Justiça própria. Não importa a hora que fui “contratada para trabalhar em Sua vinha”, sou privilegiada por Ele me chamar. Não importa se trabalhei o dia todo sob o sol quente ou se fui chamada (o) no final dos meus dias. Consigo enxergar Sua bondade aqui. E meu coração se aquieta.
Penso novamente naquele ladrão que, ainda não chegamos lá, morreria ao lado do Senhor e O reconheceu como Messias. E penso em Paulo. Quantas chicotadas! Passou fome, frio, calor, prisões, viagens e perseguições depois que reconheceu o Senhor como o Messias. Ambos receberão a salvação. Paulo não será “mais salvo” porque “trabalhou” mais. Ambos serão salvos. Essa é a bondade do Senhor para todos aqueles que nEle creem.
Continuando a parábola. Os primeiros trabalhadores se revoltarem quando receberam o seu justo salário. Escutaram a resposta do proprietário que disse, com verdade, que não estava sendo injusto. Foram contratados para receber um denário. Foi o que receberam. O proprietário podia fazer o que quisesse com seu dinheiro e foi o que fez.
Uma pergunta parece ecoar em meus ouvidos, mais forte que as outras: “Ou você está com inveja porque sou generoso?” A parábola do filho pródigo, contada em Lucas, capítulo 15 vem à minha mente. O filho mais velho ficou indignado quando o pai foi bondoso com o irmão que havia desperdiçado todos os seus bens enquanto ele trabalhava. Sou assim também? Fico indignada quando Ele estende Sua bondade aos outros de maneira que não entendo, ou não concordo, não achando justo Ele ser bondoso?
Quero parar aqui. Preciso pensar. De novo. Sondar meu coração. Será que minha mente ainda trabalha assim? Será que ainda penso em justiça própria? Será que ainda penso em obras, quando a salvação é apenas pela graça dEle, através da fé, como está escrito em Efésios 2.8? Será que esqueço a magnitude de Seu perdão, oferecido a todos?
Tenho que ser grata. Eu estava “desocupada”, “sem trabalho” e Ele me chamou para “Sua vinha”.
Lembro que não é qualquer um que pode trabalhar em uma vinha. A uva precisa ser colhida com cuidado, para não se estragar (aqui há tanto a pensar).
Não importa se trabalhei o dia todo. Se suei debaixo do sol escaldante. Fui salva. Se outro não suar, que me importa? Foi salvo. Devo ser grata a Ele também por tão grande bondade.
Amanhã prosseguimos.
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