Saímos do aeroporto. Catumbela.
Entramos em uma van. Vamos para a JOCUM.
As duas pessoas que nos buscaram são bem quietas. Fico intrigada. Somos nós a “puxar assunto”. Enfim, hoje é só o primeiro dia.
Olho ao redor. O relevo é diferente. É lindo. Bananeiras ao longo da estrada. Uma pista rápida de duas vias. Logo, porém, entramos em uma estrada de chão. Tão esburacada que pulamos como milhos de pipoca dentro da van. E olha que estamos devagar.
Suspiro. Tento respirar o ar. Agora me sinto verdadeiramente na África.
Passamos por uma ponte. Há um córrego artificial. Deve ser para levar água às plantações.
Logo chegamos a JOCUM. É uma chácara. Me apaixono.
Na frente, muitas crianças tomam banho no mesmo córrego que atravessamos. Elas correm para abrir o portão. Muitas estão completamente nuas. São todas lindas. E, já sei, meu coração pertente a este lugar.
A entrada da JOCUM é fantástica. Árvores frondosas. Lindas de ambos os lados.
Há casas que só possuem paredes. Era uma vila de trabalhadores. Foi destruída durante a guerra. Algumas foram aproveitadas e transformadas em casas. Estão habitadas.
Paramos junto a uma árvore. É minha árvore. A árvore dos meus sonhos. Quando sonhava estar aqui.
Uma casinha branca nos aguarda. Não tem cozinha. Uma sala. Três quartos. Um banheiro. O teto é de zinco.
Dois quartos são de casal. Um de solteiro. Só tem um beliche. Não cabe mais nada. Bem, enquanto o casal que virá não chega, me acomodo no quarto de casal. Não tem porta. Mas tem duas janelas.
Nos explicam que não estavam nos esperando. Mas que ficaremos e teremos que cozinhar. Onde? Ainda não sabemos.
Estamos exaustos. Quase a noite inteira acordados.
Vamos dormir. Depois vemos como faremos.
O pastor nos fala que viram nos buscar às 12h para almoçarmos.
Deitamos. Meu coração não cabe em mim. Nem que tivesse espaço no meu corpo inteiro para acomodá-lo. Simplesmente teima em sair. Ele não bate. Ele pula, dança, canta e grita. Temo explodir de tanta alegria.
Estou na África! Estou na minha amada Angola!
Lembro a mim mesma que em abril do ano passado estive no Egito. Não é a mesma coisa. Nem de longe.
Lembro também que cheguei em Luanda no último dia do ano passado. Não é a mesma coisa. Aqui é o lugar que sonhei a minha vida inteira estar.
Se ninguém visse, eu correria pela JOCUM inteira, feito uma louca.
O colchão é de espuma. Não sei como serão esses dias para minha coluna e meu braço. Acomodo-me em um canto da cama. Durmo em posição fetal. Foi a única maneira de não sentir a madeira embaixo do colchão me machucando.
Levantamos. Tomamos um banho. O chuveiro não é elétrico. Mas, a água, para mim, é boa. Já fazia algum tempo que estava tomando banho quase gelado para me habituar quando viesse “acá”.
Às 12h nos buscam (um pouquinho depois). As crianças correm para abrir o portão para nós. Acenamos para elas. E agradecemos. Vamos almoçar em Benguela, onde será o curso. Pegamos a estrada. Não, sem antes, chacoalharmos pela estrada de chão, que tem mais buraco e pedras que qualquer coisa.
Almoçamos em um restaurante com o pastor e o rapaz que nos buscou no aeroporto. Conversamos pouco. A comida me parece normal. Experimentamos o “fungi” (nem sei se escreve assim). É uma comida bem típica. É feito de fuba (eles falam sem o acento agudo) e mandioca. Não é temperado. Se precisar comer, como. Mas não gostei. Achei sem graça. Sem tempero. Entendi que é para comer com molho de carne, frango ou peixe. Mas, prefiro outras coisas. O peixe está uma delícia.
O pastor nos deixa. Vamos ao mercado. Fico impressionada com o tamanho. É realmente um supermercado.

Compramos o necessário para uns dias. Não sabemos se ficaremos ou não na JOCUM. Nem como será exatamente. Ficamos sem querer gastar. É tudo tão caro! Meu coração aperta. Sei que os salários aqui não são altos. Como essas pessoas conseguem viver? Clamo ao Senhor por socorro. Por misericórdia.
Assistimos nosso primeiro por do sol africano. Como é maravilhoso.
Quando vamos deitar, deixamos as janelas, que têm tela, completamente escancaradas. Está muito quente. É muito quente.
Demoro a encontrar um modo de deitar sem que a madeira me machuque. Não sei como será amanhã. Meu colchão, em casa, é ortopédico. Ainda bem que trouxe um apoio para meu braço.

Minha oração é que, pela manhã eu consiga levantar. E andar. Sem me encher de remédio. Todas as vezes que adormeço, há um sorriso em meu rosto.
Amanhã vamos ao culto. Logo pela manhã. Não vejo a hora.
Continuo.
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