domingo, 28 de fevereiro de 2016

Absalão e sua destrutiva amargura


Prosseguindo em II Samuel. Absalão, filho de Davi. Outro que tinha tudo para dar certo. "Pai da paz".

Imagino um homem sensí­vel, inteligente, simpático. Pessoas gostam de pessoas bonitas. A Bí­blia diz que não havia outro homem tão belo em todo o Israel. Era elogiado por todos pela sua beleza. Davi pela sua conduta. Beleza não faz caráter, infelizmente, por mais que gostemos.

Absalão esteve presente quando Tamar, sua irmã, foi covardemente humilhada. Estendeu-lhe a mão. Ofereceu sua casa. O texto, porém, fala que Tamar, arrasada, ficou sozinha, na casa de Absalão. O que ela precisava era do cuidado do pai. Absalão não podia lhe dar isso. E percebeu. Era o papel de seu pai.

Seu coração fermentava de ódio. Durante dois longos anos, alimentou dia e noite em seu coração, a vingança. Como pedrinhas de areia em sua boca. Dia após dia. 

Absalão também sabia esperar. Precisamos aprender a esperar, é verdade, mas temos que saber o que esperar. Somos terreno fértil.  A raiz da amargura brota sutilmente em nós. Pode começar por um senso de justiça. "Tenho que fazer algo quanto a isso." Ou "isso não é justo". Mas na verdade, o que essa raiz deseja é se tornar uma grande árvore de vingança e destruição.

Com o discurso de "faço questão de união fraternal", união essa que só pode ser exercida através de amor e perdão, Absalão reuniu todos os irmãos em sua casa para uma “festa” e ordenou que seus servos matassem Amnon, o primogênito de seu pai. Assumiu toda a culpa. “Fui eu! Eu me vinguei. Esperei dois anos que algo acontecesse. Que o rei tomasse uma providência. Nada aconteceu. Eu agi”.

Mais uma vez Davi se alienou do problema. Sabia o que Amnon havia feito a Tamar. Impossível não ter ouvido que Absalão havia feito uma promessa de matá-lo. Absalão organiza uma reunião, faz questão da presença de Amnon e Davi não desconfia de nada!

Após a morte de Amnon, Absalão permanece exilado três anos. Davi sente saudades. Joabe percebe. O traz de volta. Mas não houve concerto. Não houve perdão. Perdão significa "cobrir". Per+doar = doar acima de tudo. Não acontece isso. Davi ficou em seu palácio e não recebeu Absalão. Dois anos inteiros!

A essa altura, a raiz já havia se transformado numa amarga árvore, cujos frutos em breve seriam provados por todos. Absalão era astuto. Vingança virou sua especialidade. Levantava-se ao raiar do dia, "plantava-se", como a grande árvore de amargura que havia se tornado, à beira da estrada principal. Abordava as pessoas e gerava nelas a mesma amargura. "A tua causa é válida, mas não há nenhum representante do rei que te escute. Quem me dera ser juiz. Eu lhe faria justiça”. O povo sabia sobre Tamar. Absalão agiu. O rei não. Absalão seduziu o coração de Israel, conquistando a lealdade do povo, amargurado por falta de justiça. Um passo para tomar o trono. E ele não exitou. Amargura é alimentada por vingança, não justiça. E ele se vingou.

Seu desejo de fazer as coisas por si era tão forte que erigiu um monumento a si mesmo, dizendo que não tinha nenhum filho para conservar sua memória. Tinha três! Mas a amargura leva à solidão. Vingança é um prato que se come frio e sozinho. Detesto comida fria. Detesto comer sozinha. Não há sabedoria nisso. Provérbios 18.1 fala: “O solitário busca seu próprio interesse e rebela-se contra a verdadeira sabedoria”.

O perdão é maravilhoso e a amargura, que é a contramão, é devastadora! Meu coração chora por Absalão. Por ter perdido sua vida. Seus talentos e dons. Sua raiz de amargura, transformou-se em uma enorme árvore. De frutos envenenados. E Absalão morre, agarrado à sua amargura. Suspenso entre os galhos de uma árvore. Presa fácil para lhe encravarem lanças ao peito.

Quem seríamos, se não fosse o maravilhoso perdão do nosso Pai?

Que não nos deixemos envolver pela amargura, por mais que os motivos pareçam corretos. Que a ordem das nossas vidas seja o amor, a conexão, a doação, a inclusão, o perdão. Que o Senhor nos guarde da procrastinação. Que aprendamos a confrontar sempre que necessário, em amor, para não cooperarmos com a frutificação de nenhuma raiz de amargura.

E que possamos caminhar pela vida, com leveza e amor.


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