quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Davi e seus trágicos erros


Continuamos percorrendo as páginas de II Samuel. E lendo um pouco mais da vida de Davi.

Vamos, hoje, focar no que não devemos fazer. Em suas escolhas erradas, desastrosas e terríveis. 

Apesar de tudo que fez ou não fez quando deveria ter feito, imito o Pai e recordo-me de seu exemplo positivo. Continuo dando a ele o lugar de meu preferido. Homem, que erra e se arrepende.

Saul havia prometido sua filha mais velha àquele que vencesse o gigante Golias. Davi afirma ao rei que não era digno. Saul então, não a entrega a Davi. Simples assim. Quanto perdemos por esquecer quem somos em Deus! Ele estava certo quando disse que não era pouca coisa ser genro do rei. Mas errado quando esqueceu que era o rei ungido. Era uma grande coisa Merade, filha de Saul, ser sua esposa, o futuro rei de Israel. Enfim, saiu perdendo. Assim como perdemos todas as vezes que dizemos "Não posso, não tenho, não sou", quando Deus diz: "Você pode. Você tem. Você é".

Mical, a outra filha de Saul, entra em cena. Dizendo-se apaixonada. Paixão. É bem diferente de amor. Com toda certeza, não vale a pena. Continuo com vontade de esganá-la. Mical amava aquele Davi que todos viam. O Comandante do exército de Israel. O que tinha boa aparência. O que era mencionado nas canções. Não quem realmente ele era. Não a ponto de fugir com ele. De arriscar sua vida por cavernas e desertos. E aqui, quando mais uma vez surge a oportunidade dele ser genro do rei, me decepciono, quando novamente diz que era pobre, de família e condição humilde. E daí? Era o rei ungido do Senhor. Mas, para provar seu valor, mata duzentos filisteus, quando o rei havia pedido cem, como dote para o casamento. Cem era muito. Na verdade, uma cilada para matá-lo. Davi mata duzentos. E­ se redime comigo. Tudo bem. Posso esquecer essa bobagem que falou. Mas não se redime por ter matado aqueles homens e sim por ter atendido mais uma exigência de Saul. Para mim, ainda o que conta é ele ter enfrentado o leão para salvar sua ovelhinha. Quando ninguém estava vendo. E arrancá-la de sua garganta.

Os anos passam. Davi torna-se rei. E num belo dia de primavera, quando os reis costumavam sair para as batalhas, o rei Davi enviou Joabe, o chefe de seu exército, e seus guerreiros. E permaneceu em Jerusalém. Seu erro começa aqui. Não estava no lugar aonde deveria estar. O exército de Israel acampado em guerra. O rei dormindo tranquilamente, após o almoço. Foi passear no terraço do palácio real. Ele olha. Vê uma mulher tomando banho. Acha-a bonita. Chama alguém para lhe dizer quem ela era. Informam que é a esposa de seu servo, Urias. 

Urias, um de seus valentes, homem guerreiro e leal. Davi poderia ter saído do terraço. Corrido como José. Mas não. Ela era casada. Esposa de seu guerreiro. Aquelas palavras ecoaram, com certeza, em sua mente. Mais uma chance de sair do terraço. De correr. De pegar sua harpa e compor uma canção, prostrado aos pés de seu Senhor. Mas não. Usando seu poder de rei, manda trazê-la. E deita-se com ela. Meu coração chega a doer. Imagina o de Deus.

A guerra continua. Os dias passam. Davi continua em Jerusalém. Bete-Seba lhe informa que está grávida. Davi manda chamar Urias. Que homem esse Urias! Não se deita com sua mulher! Seria uma deslealdade para com Deus. Para com o exército de Israel. Seria como beber a água que Davi derramou, quando seus valentes a trouxeram de Belém.

Como está escrito, um abismo chama outro. E ao adultério, Davi acrescenta o assassinato de um leal e valoroso soldado.

Como o Senhor falou a Caim, o pecado está á porta, mas temos que dominar sobre ele. Nosso inimigo nunca vai desistir de nos tentar, das mais variadas formas. Por isso é tão importante estarmos em Deus. Com nossos olhos nEle. Ouvindo Sua voz. Obedecendo-lhe. Escolhendo-O todos os dias. O dia todo. Caso contrário, somos presas fáceis.

O lindo é que Davi confessa e se arrepende. E não tem como não admirar sua atitude com relação ao filho dele e de Bete-Seba. Yahweh disse que a criança morreria. Davi se humilha diante do Senhor. Com clamor e jejum. Sete dias. A criança morre. Ele ouve um sonoro não de Deus. Claro que doeu. Mas imediatamente se levanta. Toma um banho. Perfuma-se. Troca suas roupas. Entra no Santuário. Adora ao Senhor. Volta para casa. Não fica se lamentando. Não fica lambendo suas feridas. Recordando-se de sua dor. Alimenta-se. Consola Bete-Seba. 

Ter aprendido a ouvir o não do Senhor e ainda assim adorá-Lo agradou o coração de Deus, que lhe deu outro filho. Um filho que o Senhor "muito amou". O Senhor o amou tanto que mandou Natã até Davi para lhe falar. E, embora Davi tenha posto o nome desse filho de Salomão, o profeta passou a chamá-lo de Jedidias, "Amado do Eterno".

Ouvir um não de Deus é algo muito difícil. Principalmente nessa situação. Mas se ainda assim nosso coração for grato e confiarmos nEle, tal atitude abre portas para nos abençoar, muito além do que pedimos ou pensamos. O Senhor não apenas abençoou aquela criança, o Senhor "muito o amou".

Que aprendamos a ouvir o sim e o não do nosso Pai amoroso, com o coração grato, de um verdadeiro adorador.

O Senhor perdoou Davi, mas quanta desgraça aquela permanência no terraço lhe trouxe! Se houvesse uma maneira de voltar atrás, tenho certeza que faria. Amnon seu filho, abusa de sua filha, Tamar, e a seguir, a despreza. Para mim, uma das cenas mais tristes da Bíblia. Não consigo ler sem chorar horrores. Vejo aquela menina, linda, com o coração repleto de sonhos, que trajava uma túnica especial, longa e colorida, própria das filhas virgens do rei, sair pela rua, com cinza na cabeça, rasgando sua túnica, a mão sobre a cabeça, chorando em desespero e alta voz. No meio da rua! Seus sonhos despedaçados. Diante de todos. E vai para a casa de seu irmão Absalão. Seu lugar era na casa do pai. No colo do pai, para ser curada e consolada. Não na casa do irmão. E aí, meu coração se parte em mil pedaços. 

Davi ficou muito indignado, mas não fez nada, porque amava muito a Amnon, seu primogênito. E sua filha? Nem ao menos a chamou para casa. Sua passividade o fez perder Tamar. O fez perder Amnon, que foi morto por Absalão. O fez perder Absalão, que foi morto pelo ódio que fervia em seu coração. O fez perder o trono. Quanta desgraça atingiu sua vida! Quando Davi deveria ter fugido, ficou. Quando deveria ter agido, se esquivou. E, para mim, sua atitude para com Amnon e Tamar é muito mais terrível que o adultério e o assassinato que cometeu. Eram seus filhos. Precisavam de sua ação. De sua intervenção.

É nossa responsabilidade abençoar e proteger nossos filhos, para os projetarmos ao futuro de Deus para eles. Lançá-los como flechas ao alvo. E Davi se esquiva. Não disciplina. Não estende a mão. Não toma nenhuma atitude. Vê tudo acontecendo debaixo do seu nariz e não faz nada. Quanta coisa poderia ter sido evitada se tivesse agido como pai e não como um espectador! Louvo ao Senhor pela história toda ter sido contada, mas não consigo não ficar chocada cada vez que leio. Com o coração apertado. 

Pecado é algo devastador. Para nós! Por isso Deus nos exorta. Por nos amar. Por nos querer inteiros. E não farrapos humanos. Não por Deus ser legalista, mas por nos amar, pois sabe o que o pecado faz ao homem. 

Não sei quanto tempo havia se passado desde a história com Bete-Seba. Davi ainda estava sendo curado? Sentia-se inadequado para agir? Não sei. O pecado nos desconecta de Deus e dos homens. Choro por ele. Quero vê-lo restaurado. Dói muito aprender com o erro de quem quer que seja. É muito triste.

Que aprendamos! A fugir quando precisarmos. A agir quando necessário. Que jamais sejamos espectadores de ações covardes e humilhantes! Que sejamos agentes de mudança, como nosso Senhor Jesus nos ensinou, com Seu maravilhoso exemplo.

Que sigamos o conselho de João: "Caro filhinhos, estas palavras vos escrevo para que não pequeis. Se, entretanto, alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo!" - I João 2.1

Que fujamos do padrão demagógico de santidade, sendo sempre, em todo o tempo, completamente dependentes dEle! Que nos arrependamos sempre que necessário, retomando ao nosso lugar de filhos e santos, o que só conseguimos se estivermos nEle. Em comunhão, intimidade e vulnerabilidade diante dEle.

Que acolhamos os que caíram pelo caminho. Para que sejam curados. Restaurados.

Que o pecado nos entristeça porque O entristece. E não queremos estar longe dEle. Em tempo algum. Pelo simples fato de que Ele nos amou. Entregou-nos o Seu coração. E somos dEle. Assim como Ele é nosso. O amamos. E O queremos em nossas vidas. Sempre. A cada dia. E queremos estar inteiros. Ser inteiros. E acertar o alvo.

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