quarta-feira, 1 de junho de 2016

Golias é vencido!

Mais uma vez tenho que enfrentar o Golias, Sr. Ressonância Magnética, o Grande Contraste. Estou tranquila mas tudo volta à minha lembrança. Minha caminhada para a batalha épica. Pouco menos de sete meses atrás.

O calor escaldante. O trânsito uma lástima. Minha correria para não chegar atrasada. E minha angústia. Só de pensar em ficar vinte e cinco minutos dentro da boca de Golias, com seus gritos ensurdecedores, me causavam um pânico quase incontrolável. Bem, agora estou indo. Procuro dentro de mim algum resquício de pavor. Terei que enfrentar Golias duas vezes nos próximos oito dias. Tudo que encontro dentro de mim é uma paz e uma tranquilidade inexplicável.

Penso que quando estiver próximo,  meu coração vai acelerar e vou ter que clamar feito louca, pedindo forças ao Senhor.

O trânsito corre tranquilo. Saí de casa com duas horas de antecedência. Dessa vez não vou correr. Vou enfrentá-lo calmamente. Consigo um lugar no ônibus e sigo tranquila.

Levo quase meia hora para atravessar uma avenida. Parece que o sinal estragou.  Um policial, que também aguardava, para o trânsito a fim de podermos atravessar. Todos agradecem. Meu coração está cheio de gratidão. Experimento que realmente o perfeito amor lança fora todo o medo. E prossigo calmamente até à Clínica.

Hoje não a enxergo como um prédio frio, tenebroso. É bonita. Até acolhedora. Percebo que a maneira de encarar as circunstâncias tem um enorme poder sobre a realidade. 

A atendente demora mais que o normal, mas isso não me estressa. Ela é muito atenciosa e gentil. Consegui autorização para fazer três ressonâncias de uma vez só.

Após as assinaturas, me entrega os papéis e me encaminha à entrada. Um senhor muito atencioso me dá as boas vindas e me apresenta a uma outra moça, afirmando que cuidará muito bem de mim. É assim que me sinto, cuidada.

Descemos pelo elevador. Foi tão rápido. Assim que a porta se abre, dou de cara com Jonny Deep no seu personagem em Piratas do Caribe. Vejo novamente o lindo Matt Damon, em cenas do Bourne. E algumas cenas da África que eu tanto amo. Me sinto em paz. 

Na recepção sou atendida pelo Nicolas Cage. Os mesmos olhos. Muito atencioso, me explica os procedimentos. Me tranquiliza até da ressonância da semana que vem, que é uma modalidade nova para mim. Faço piada. Sorrio. Estou tranquila.

Respondo a um enorme questionário. Sou encaminhada ao vestiário. Troco minhas roupas. E me sento em uma agradável sala de espera. Acho tudo tão limpo e lindo. As enfermeiras conversam e sorriem, combinando o almoço mais tarde. Lembro que minha filha vem me buscar e vamos almoçar juntas, com minhas duas netas. Penso em um restaurante que inaugurou a pouco e que queremos muito conhecer. Enfim, meu ânimo é outro. Vou apenas enfrentar Golias. Ele já é morto. 

Só então reparo que não tinha ouvido seus gritos. Escuto. São gritos baixos. Não me intimidam. E penso na bondade de Deus. Essa sou eu?

Sou acompanhada pelo Nicolas Cage, é muito parecido. Ele conversa carinhosamente comigo. A rampa que descemos não parece tão longa e amedrontadora como da vez anterior. É a mesma rampa. Não mudou. Eu mudei. 

Ele me deixa confortavelmente sentada aguardando enquanto prepara o Golias. Estão todos silenciosos. Nenhum grita desaforos como da outra vez. Sento ao lado dos "arquivos da Enterprise", que trabalham freneticamente, imprimindo imagens de alguma ressonância. Lembro que estou de costas para o lindo Jonny Deep, num campo maravilhoso. Levanto-me e quase o cumprimento, ainda incrédula por ter que ficar de costas para ele e para aquela cena tão confortadora.

Uma enfermeira vem conversar comigo. Me pergunta o porquê das ressonâncias. Explico. Me informa delicadamente que será demorada. Pergunto o tempo estimado. Responde que será de mais de uma hora. Penso na Fernanda. Tomara que demore para chegar. Assim não vai esperar muito.

Peço ao Senhor que me ajude. É duas vezes mais tempo que já fiquei dentro de Golias. Não estou naquela angústia de "vou cantar, vou cantar, vou cantar". Aquela barulhada toda me desconcentra. Vou orar, cantar, pensar, sonhar. Simplesmente deixar o tempo passar. Sem me preocupar. Estou cansada. Vou descansar.

Chega a hora. A enfermeira chama meu nome. Meu coração não dispara. Minha boca não amarga. Esse Golias é ainda maior. Vamos lá. Ela explica calmamente os procedimentos. Primeiro em uma posição. Depois colocará um aparelho. Outra posição. Saio. Contraste. Entro. Uma posição. Outra posição.

Deito. Delicadamente ela me cobre. Coloca fones nos ouvidos. Me entrega uma campainha para alguma emergência. Me instruí a ficar o mais imóvel possível.

A cama sobe. Entro no tubo. Muito baixo. Fecho os olhos. Uma hora e meia. Vai passar rápido. Claro que não é uma experiência agradável. É algo claustrofóbico mas não estou em pânico. Penso que se eu não aguentar, chuto a almofada onde estão descansando minhas pernas e saio rapidamente dali. Simples assim. Não é uma prisão. É apenas uma máquina.

Penso no inventor. Que invenção maravilhosa, apesar de tudo.

De vez em quando, pelo microfone, me pergunta se estou bem. Respondo que sim. Só assim tenho certeza de que não me esqueceram aqui. Estou certa de que já passou uma hora e ainda não colocaram o tal aparelho.

Enfim, ouço passos. O aparelho me faz lembrar a máscara usada em Silêncio dos Inocentes. Se estava apertado dentro de Golias, muito mais agora. Mas não estou desesperada. Penso em coisas agradáveis e o tempo passa. Presto atenção aos barulhos emitidos por Golias. Alguns parecem um coral. Vozes masculinas e depois o soprano. Até latidos de cachorro. Novamente passos. Mudo de posição. A enfermeira avisa que ficarei numa posição mais desconfortável. De bruços. Prefiro. Quase cochilo. O tempo passa. Tenho certeza que esqueceram de mim. Se não fosse tanta gritaria, eu teria dormido. Sonho, mesmo acordada. Novos passos. É a hora do contraste. Outra enfermeira. Muito atenciosa. Não encontra minha veia. Não me estresso. Conversa calmamente comigo. Estou tranquila. Chama um enfermeiro. Docemente procura uma veia. Encontra. Fica de mãos dadas comigo até injetar todo o contraste, certificando-se a cada instante se estou bem. Sinto-me cuidada. 

Penso na Fernanda. Já deve estar lá fora. Com fome. Tenho a impressão de que estou aqui à tarde toda. Volto para o Golias. De bruços. De frente. Tudo que consigo pensar é na bondade do Senhor. Nunca ia suportar ficar esse tempo todo aqui. Já teria tido uma crise de pânico, corrido, desmaiado, morrido.

Enfim, as palavras tão esperadas: acabou.

Outra enfermeira me acompanha. Subimos a rampa. Tenho a impressão de ter dado apenas três passos e já vejo minhas três riquezas, tão lindas, me esperando. Abraço e beijo. Vou com a enfermeira para colocar um adesivo onde as veias foram furadas. Troco de roupa. 

Vejo a hora. Fiquei duas horas e cinquenta minutos dentro de Golias. A certeza da bondade de Deus me invade. Me inunda. Todo esse tempo? Estou bem. Só posso dizer "Obrigada Senhor". Nem tonta estou. Apenas com fome. Comento sobre os quadros com a Duda. Tudo parece tão lindo. Luísa quer o meu colo. Eu a pego. E saímos dali como se estivéssemos em uma galeria de artes. Essa realmente sou eu? E meu coração mais uma vez se enche de gratidão. O Senhor realmente nos transforma. Há situações que não são transformadas, que precisamos passar, mas Ele nos transforma e nos capacita para enfrentar e vencer. Como é bom pertencer a um Deus que é amor. Sabendo que somos cuidados, a cada dia.

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