domingo, 29 de maio de 2016

Deus não se esqueceu

Vamos percorrer as páginas de Rute? Um de meus livros preferidos.

Mas, permitam-me a interpretação. Hoje sou Noemi, a Agradável. E assim, sendo Noemi, leremos essa maravilhosa história.

A fome tem assolado nossa amada terra, Israel. Tenho visto meu marido angustiado. Pensamento distante. Sem saber ao certo o que fazer. 

Um dia, muito sério, dor no coração, conta-me seus planos. Vamos passar um tempo fora. 

Nosso pai Abraão também saiu dessas terras quando em época de fome. Isaque também. E Jacó, com toda sua família. 

Diferente deles, que foram para o Egito, vamos a Moabe. Meu coração se parte. Temos que deixar nossa terra tão amada. Junto nossos pertences. E vamos. Ele, eu e nossos dois filhos. Espero que seja por pouco tempo. E que sejamos bênçãos naquela terra. Foi isso que nosso Deus nos ensinou. Ser bênção. 

É verdade, estamos indo fugindo da fome. Não importam as circunstâncias. Temos que ser bênçãos. Essa é Sua ordem para nós. 

Ficamos naquela terra estranha. Meu marido morre. Que dor. Meu coração sangra. Enxugo minhas lágrimas. Tenho dois filhos. Que são minha alegria. E precisam de mim. E eu deles.

Eles se casam. Com Orfa e Rute. Duas belas mulheres. A quem aprendi a amar. A abençoar. E sei que me amam também. É verdade, são moabitas. Nós fazemos parte do povo que Deus escolheu para ser Sua propriedade peculiar. E nós, bênçãos para todas as nações. E as abençoamos. São nossa família agora.

De repente, a tristeza assola minha vida. Como uma onda me engole. Meus filhos morrem. Sinto-me afogada. Não há como enxugar minhas lágrimas. Sou dor. Minha alegria se foi. Nunca mais vou sorrir. Não há mais como ser agradável. Minha boca amarga. Meu coração secou. Sou Mara, a Amarga. Noemi, a Agradável, morre com eles.

Resolvo despedir minhas noras. Não há porque mantê-las junto a mim. Não tenho mais esperança. Não tenho mais vida. Não tenho mais nada. 

Como ser bênção na vida de ambas? Liberando-as. São novas. Podem se casar novamente. Quem sabe, ter filhos? Como eu desejava netos! A continuidade de nossa família! 

Sou apenas lágrimas. Despeço-me de ambas. Choramos muito juntas. Abraçadas. Minhas filhas. Mas é o melhor a fazer. 

Nenhuma delas quer me deixar. Explico que não tenho mais nada a oferecer. Que ouvi dizer que o Senhor visitou minha terra. Há colheitas novamente. É meu último alento. Voltar para casa. E morrer. Mas então, lembro a mim mesmo que já estou morta. Sou Mara. 

Após muita relutância, Orfa volta para casa de seus pais, mas Rute não. Ela se prende a mim. E fala aos meus ouvidos doces palavras. O meu povo é o seu povo. Nosso Deus, o mesmo. E minha terra será a sua terra. Afirma que só a morte nos separará. Não há o que fazer. Ela está completamente determinada a me seguir. 

Rute também perdeu o que tanto amava. Seu marido, meu filho. E o Senhor, não entendo, não lhe concedeu um filho sequer. Sou a lembrança de seus sonhos, de seu amor, de sua vida. 

Tomamos nas mãos alguns poucos pertences e seguimos. Juntas. Temos apenas uma à outra. E a dor.

Quando chego a Belém, as mulheres sussurram meu nome. Não tem certeza se sou eu realmente. Com os olhos procuram meu marido. Meus filhos. Mas somos apenas duas mulheres. Tristes. Viúvas. Sozinhas.

Ouço meu nome. Meu antigo nome. Peço que me chamem Mara, a Amarga e não mais Noemi, a Agradável. O Senhor me tratou com amarguras. Se mostrou desfavorável a mim. 

A única coisa que me impede de nunca mais levantar é Rute. Apesar de sua dor, está sempre procurando amenizar a minha. Logo que chegamos, me consulta se pode ir ao campo para conseguir nosso alimento. Eu a abençoo para que vá. 

Ela passa o dia inteiro fora. Ao por do sol a vejo chegando. Rosto cansado. Mas em paz. Ela vem com um cesto enorme. Pesado. Colheu vinte e cinco quilos de cevada. E ainda trouxe comida para mim. 

Pergunto onde trabalhou. Desejo que Deus abençoe o homem que lhe foi generoso. Para minha surpresa, ela fala que esteve todo o dia no campo de Boaz, o Valente. Me conta o quanto ele foi gentil e a abençoou. 

Boaz, o Valente, é parente de meu amado marido. Sempre agiu com atos de justiça e misericórdia. Agora, até para com os mortos! 

Apesar de toda minha dor e amargura consigo ver a mão do Senhor sobre Rute. Ela poderia ser molestada em qualquer outro lugar, mas não nos campos de Boaz. E isso acalenta um pouco meu coração. 

Sei que é meu dever buscar um lar seguro para a felicidade dela. Talvez por isso tenha voltado comigo. Talvez Deus não tenha se esquecido de nós. Ainda não sei bem o que fazer mas serei bênção de alguma forma para ela. Como tem sido para mim. Mesmo eu sendo apenas dor. 

Surge uma oportunidade. Conto meu plano a Rute. Espero que concorde. Hoje à noite Boaz estará debulhando cevada na eira. Mando que se arrume. Se perfume. E quando ele se retirar para dormir, descubra seus pés e se deite. Sei que ele agirá corretamente. Rute concorda com meu plano. 

Fico sem dormir. Em meu coração surge um fio de esperança. Talvez eu volte a sorrir. Talvez volte a ser Agradável novamente. 

No meio da noite, Rute me contou, Boaz acordou sobressaltado. E, como a instruí, Rute lhe pediu que estendesse seu manto e nos resgatasse. Boaz se admirou com sua atitude. Rute, estava novamente sendo generosa para comigo, procurando alguém que nos remisse e não apenas se casasse com ela.

Boaz então, lhe explicou que havia um outro remidor e a despediu com seis medidas de cevada, para que ela não voltasse de mãos vazias até a mim. Disse a ela que iria resolver essa questão.

Eu a tranquilizei. Agora é esperar. De repente, nossas vidas podem mudar. Nossas feridas sendo cicatrizadas. Acho que Deus se lembrou de nós, para nos abençoar! Nos colocou no caminho desse justo homem.

Boaz sentou-se à porta da cidade, como o costume e coincidentemente, naquela hora, passou o remidor. Boaz então, perguntou se ele queria exercer o direito de resgate. Ele disse que sim. Boaz o lembrou que juntamente com a terra, deveria tomar Rute como esposa e perpetuar o nome de Malom, meu falecido e querido filho. 

O homem declinou de seu direito. Não quis dividir seus bens e propriedades, suscitando o nome de seu parente e, como o costume, tirou uma de suas sandálias, passando o direito a Boaz. 

Boaz, o Valente, então nos remiu. Houve alegria entre os que ali estavam. Todos viram nossa dor e como Rute era uma mulher honrada, ainda que fosse de Moabe. Eles a abençoaram para que fosse como Raquel e Lia, que juntas formaram a tribo de Israel e que Boaz fosse poderoso e cheio de prestígio em nossa terra. 

Então, Boaz e Rute se casam. Como foi bom ver o sorriso nos olhos de Rute. A esperança novamente ali, brilhando. E meu coração se animou um pouquinho. Quem sabe o Senhor se lembre de mim? 

E foi assim. A dor passou. Olho para trás e vejo as cicatrizes. Os caminhos e os pensamentos de Deus são melhores que os meus. Quando não havia mais esperança, quando não havia mais nada, o Senhor abençoou Rute e Boaz e eles tiveram um filho. Meu neto. Obede, O que adora. Suscitaram a descendência de Malom. Não seremos mais esquecidos. 

Rute é tão generosa que o menino, Obede, é meu. Uma alegria. Vive em meus braços. Como meu filho. Meu nome voltou a ser Noemi, a Agradável. O sorriso voltou à minha face. As mulheres não me olham mais pesarosas. Reconhecem que o Senhor me abençoou. Afirmam que meu neto será célebre em Israel e que Rute, minha nora querida, que muito me ama, é mais valiosa que sete filhos! E elas tem razão. 

Quando não havia mais esperança,  Deus se lembrou de mim. E me remiu. Curou minha dor e me alegrou.

Podemos estar passando por situações que nos impedem de enxergar o futuro de paz que o Senhor tem para nós, mas Ele pode alterar nossas circunstâncias. Noemi apenas viu Obede. Mas nós sabemos onde essa história foi parar. Obede foi pai de Jessé, Jessé pai de Davi, o homem segundo o coração de Deus e dessa raiz veio o nosso Remidor, o Messias, Jesus, o Filho de Davi, o Desejado das Nações.

"Àquele que é poderoso de realizar infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou imaginamos, de acordo com o Seu poder que age em nós, a Ele seja a glória na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, por toda a eternidade. Amém!" - Efésios 3.20,21

Não desista. O Senhor pode curar nossas dores. Sempre.

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